No princípio não houve o verbo.
Houve tons de vermelho
houve álcool
houve a sensação de nada ao nosso redor apesar de todas aquelas
pessoas
e houve depois uma mulher dizendo
que o amor é muito bonito mas não podíamos ficar sozinhos ali.
Do vermelho se fez o azul:
era a primeira madrugada
minha planície se tornou também sua
e as paredes do quarto azulavam
e escondiam tudo que não se pode dizer nem fazer às claras
enquanto o mundo
– apenas o mundo –
dormia.
A primeira manhã trouxe o sol mas ele parecia estar pela metade
e quanto anoiteceu não houve lua
você disse que havia luz
e até mesmo um brilho no mar
mas juro que eu vi a sombra escondendo inclusive
aquele fenômeno de nome engraçado
(luciferase)
Então já havia o verbo
mas a noite perdurou de modo que
por alguns dias não houve azul nem vermelho
ainda não havia lua
e a metade do sol tinha ido embora
então o verbo nos levou ao sétimo dia
e buscamos mais cores
e buscamos mais álcool
e havia tanta gente que em um momento já não havia ninguém
e tornamos ao princípio:
azul, vermelho, sons, luzes
tudo que havia se fundiu
e afugentou a sombra
e sol e lua se moveram tranquilos sobre a planície
e a luciferase continuou a brilhar
sobre a face das águas.