“Vai trabalhar muito e nada de reconhecimento”, eu ouvia quando, menina, dizia que seria professora. O fato é que só travei contato com a licenciatura após me formar em Jornalismo. Já no penúltimo semestre de Letras, encarei a obrigação do estágio e assumi uma turma do 3º ano do Ensino Médio do Atheneu.
O nervosismo logo deu lugar à empolgação. Mas bastava passar na sala dos professores para murchar diante da falta de motivação dos meus calejados colegas. Certa noite, querendo me entrosar, perguntei se havia algum projeto político-pegagógico. “Minha filha, isso não existe!”, alguém exclamou antes de puxar o coro de risadas. Mas um professor permaneceu em silêncio. Dias depois, ao indagar minha tutora de estágio sobre atividades extraclasse, descobri, por acaso, que aquele homem discreto, moreno e de estatura mediana lecionava Geografia e coordenava um tal projeto Despertar no Atheneu. Fui puxar conversa com o professor, pensando em incrementar meu relatório.
Adalberto Pereira me recebeu no auditório da escola. Com voz suave e segura, contou que o Despertar surgiu no Ceará em 2002 e chegou aqui graças a uma parceria entre o Sebrae e o Governo Estadual. O objetivo é atrair alunos com tino para o empreendedorismo e torná-los aptos a ingressar no mercado, tocando o próprio negócio ou colaborando com empresas. Os jovens são assistidos por voluntários e por profissionais do Sebrae, visitam empreendimentos e conversam com gerentes. Os diplomas são conferidos após 180 horas-aula.
Adalberto afirmou não receber um centavo pelo trabalho no Despertar (seu benefício era uma redução de quatro horas na carga semanal) e ainda ouvir dos colegas que “não vale a pena esse desperdício de tempo”. Ele relatou isso sem se abalar e sorriu ao citar três ex-alunos que vivem do lucro obtido com seus negócios. Aí ficou clara a sua motivação. Certa noite, observando-o de longe, o vi ser respeitosamente abordado pelos mesmos alunos que criticavam outros professores. Lembrei da exortação de Paulo Freire: amem seus discípulos. O próprio Adalberto dissera no auditório: “abrace isso com amor. Hoje, mais do que professor, sou educador. É isso que se deve almejar”.
O tempo de sonhar acabou e a vida é mais difícil do que eu vislumbrava quando criança. Mas, se satisfação não paga as contas, a alegria de operar uma mudança na vida de um aluno não tem preço. Faço votos de que Adalberto continue despertando o melhor de seus aprendizes, e inspirando novos profissionais a fazerem o mesmo.
Publicado no Novo Jornal, edição do dia 14 de maio de 2010.
Acho linda esse experiência sua com o professor. Prenúncio de uma brilhante carreira que eu sei que você terá.
ResponderExcluirEi, fia, to pensando em botar um trechinho do prefácio seu no brogsson. Mas só faço isso quanto tiver mais perto do lançamento viu? Te amo, S.
A vida dá muitas voltas não é mesmo...
ResponderExcluirCá estou eu dando uma olhadinha nas disciplinas de pós da educação. (nunca me imaginei dando aulas, e hoje espero formar muitos engenheiros no mundo)
Que nos tornemos boas educadoras e que nossos alunos brilhem (como os do prof Adalberto)
bjns
Que lindo Professora! Ter um professor fascinante inspira qualquer aluno. Continue lecionando , fazendo o que gosta que muitos alunos irão se beneficiar. Se cada professor tivesse essa sede de mudança as coisas seriam bem melhores.então ... Parabéns ! Fico feliz por saber que ainda há esses professores.
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