Ela costumava enfeitar o cabelo.
Então
imagino-a de turbante
com uma flor de pano em três ou quatro cores
adornada pelo halo crespo.
Imagino-a entre as irmãs
- dezenas delas -
dizendo-lhes:
não devemos dar a eles a dádiva do silêncio
lutemos juntas
cada uma a seu modo:
podemos gritar
cantar
podemos até mesmo dançar
fluidas e fortes tal qual água sobre rocha
teimosas como flor que cresce no asfalto
e não morre.
Imagino-a de punho em riste
mas sorridente
festejada
pois não quero pensar nos rojões vermelhos
nem no corpo que já não resiste à gravidade
tampouco em como é fácil romper a tênue linha entre a existência e o nada.
Prefiro imaginar o estampido de palmas
talvez o movimento de uma saia rodada
e de pés escapando das sandálias
qualquer momento em que tenha havido felicidade
um segundo qualquer
em que tenha havido esperança.
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