Ele
pleno em seu silêncio e em sua força
os quadris dela alçados por seus braços
nem valsa
nem foxtrot
uma dança só deles
batucada ao modo de jam
sem marcação
sem regência
sem ensaio
vontade apenas
maior do que a vontade
só o esforço
que não houve na dança
mas que agora esmaga a meia-luz do
quarto
o esforço do instante em que ela olha o
rosto dele
e ele não sabe que ela o vê
o esforço não é o de encontrar beleza no
semblante plácido
– a beleza já estava lá –
contudo
pela primeira vez ela o vê plácido como uma
criança que dorme
uma criança que sonha
com brinquedos
com o bichinho de estimação
com o colo morno da avó
não aquela placidez de quem diz não se
desequilibrar.
Aquele esforço dela é o de quem se conforma
simplesmente porque precisa
precisa se conformar
com a suspeita de ser a última vez
com a suspeita de ser a última vez
com o fato de não ser desta vez
com a ideia de ser apenas a da vez.
Sobretudo
precisa aceitar que
ele
deve ser apenas o da vez.
Ele
que já se foi antes mesmo de cruzar a porta
mais pesada
porém aberta, escancarada
ele
que poderia ter sido recomeço
é apenas
ponto final.
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