Escritos de Ada

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Para ficar em paz


Talvez
eu jamais esqueça o seu nome
(tenho boa memória para nomes
assim como para particularidades anatômicas:
um sinal no peito
um dedinho torto
caninos sem pontas
pequenos calos nas mãos)

mas um dia
haverei de esquecer

o tom da sua voz me dizendo
como a uma criança
que eu tenha cuidado porque este mundo é uma selva
que eu observe com quem andam os homens
para deles me proteger

haverei de esquecer
de como era fácil desarmar você
um beijo na nuca apenas
um abraço com minhas pernas em tua cintura 
e era tudo meu:

os sorrisos
o corpo em festa
os olhos fechados
o ressonar revelando inimaginável intensidade
tanta
como se todo o ar tivesse de ser seu

um dia haverei de largar tudo isso
não naquele relicário
onde guardo os amores que me fizeram melhor

mas num baú
cuja chave perderei a cada troca de fechadura
para que permaneçam ali as lembranças de quem me fez abrir a porta
e ficar ao relento

para ficar  em paz
sabendo de você
talvez

apenas o nome. 


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