que talvez nunca se revele:
o exato momento em que amei você.
Mas acho que foi antes mesmo de sentir suas costas
e de tocar seus cabelos.
Antes
do olhar fortuito sob o céu da Ribeira
ou mesmo das notas que rompiam a fumaça naquele palco
em um longínquo dezembro.
Acho que amei você antes
que o mesmo pássaro cantasse às nossas janelas
e a mesma flor tocasse nossos ombros.
Eu já o amava
desde o vislumbre anterior ao verbo e à carne diante de mim:
o vislumbre de um homem diante do qual eu ficasse
verdadeiramente nua.
Amei esse homem antes de vê-lo em você
mas não tanto
quanto na noite de minha nudez
quando mistério nenhum foi maior
do que o derramamento da alma
enfim revelada
enfim amada.
De tão menor
cabe o mistério naquele pássaro
naquela flor
nas notas através da fumaça.
Nenhuma palavra o desvela.
Apenas sabemos que
antes do verbo e da carne
antes do verbo e da carne
ou mesmo antes de nós
era.
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