Escritos de Ada

terça-feira, 5 de abril de 2011

Prefácio - ÁGUAS

Por Sheyla Azevedo - Jornalista

Quando comecei a folhear os primeiros versos alheios, passei a acreditar que a poesia fosse um mergulho profundo no sentido das palavras. E me maravilhava com a possibilidade de desvendar tantos cantos, histórias, sentimentos, ritmos e epopeias na economia de linhas. Um oceano dentro de um copo d’água. Poesia como ocasião para a vida, ou o contrário, já que tendemos à mesma perplexidade diante dos mistérios de uma e de outra. De lá para cá meu encantamento só aumentou diante da beleza que se sujeita a nascer perante a experiência poética, que eu julgo pertencer muito mais a mim enquanto leitora que ao poeta, esse crédulo pescador de metáforas.

Mergulhar nas Águas de Ada Lima é sem dúvida uma experiência poética. Um convite para os deslimites da palavra e o que ela pode nos trazer de misterioso e belo: Agora / que tudo é silêncio / adormeço / ouvindo / o barulho das ondas / o mar é / dentro de mim. Imagino a poeta e seu silêncio, recluso e necessário, se jogando nas pedras do pensamento, provocando ondulações que escorrem para a ponta dos dedos e, sem qualquer outra alternativa possível deságuam no papel. Tenho sede / de coisas inexistentes / que vivem nas pontas dos meus dedos / palpitantes / e suados / como alguém em derradeira agonia.

Um mergulho ora em palavras sem margens na primeira parte, que dá nome ao livro, ora nas confissões poéticas da segunda parte, memórias e outras invenções que nada têm a ver com exposição ou sentimentalismos. Estão mais  para confissões capazes de dar alma às pedras e ouvido às flores, ao mesmo tempo em que nos leva a lembrar com ternura do banho de chuva que jorravam das bicas direto nas nossas cabeças, na infância do interior.

Um poema / é o coração / a pulsar fora do corpo. Ada possui a concisão de um nome que abre asas quando pronunciado. A infinitude em duas letras. Com a sua poesia é a mesma coisa. Aquela menina gauche que ensaiava poemas e inventava fonemas agora nos leva para águas mais profundas e nos faz ler versos com a mesma sonoridade íntima que nos entregamos às conchas coladas ao ouvido.

Um comentário:

  1. Eitchaaaa!

    Nem posso dizer, que legal! (risos). Seria cabotino, hehehehehe.

    Daí digo: que legal que seu livro tá absurdamente bom e que é uma honra ser sua leitora.

    bjs, S.

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