Escritos de Ada

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sobre poesia e suor

Eu tinha onze anos de idade quando escrevi meus primeiros poemas. Talvez porque admirasse demais a disciplina parnasiana, fazia tudo rimado. Quando conseguia construir um soneto, então, era a glória. Adolescente, evocava amores não correspondidos e outras situações que, eu demoraria um pouco a descobrir, nada tinham de trágicas.

À época, eu ainda não me interessava por poetas marginais, versos livres, rupturas com a tradição. Lia algo de Manuel Bandeira e de Oswald e Mário de Andrade nos livros didáticos e achava aquilo tudo muito engraçado. Ecos da infância. Filha e neta de professoras, cresci numa casa cheia de livros. Muitos eram volumes antigos, recheados de poeminhas rimados e histórias finalizadas com lições de moral.

Eu tinha sete ou oito anos de idade quando descobri, no alto da estante da sala, uma coleção em quatro volumes com capas douradas, coisa fina. Eram as obras completas dos poetas românticos brasileiros. Devorei aquilo e desejei saber rimar. Mas só passei da vontade à ação anos depois, quando travei contato com a métrica fria e meticulosa dos parnasianos. Era o passo que faltava para eu cometer minhas primeiras rimas pobres. Quando finalmente conheci os modernos, do fundo da minha ignorância, já havia me dado conta de uma coisa: como poesia dá trabalho!

Digam o que quiserem, rejeito a tese da inspiração. Não nego que, volta e meia, vêm à mente uns versos que parecem soprados por uma entidade. Mas organizá-los são outros quinhentos, mesmo em se tratando daqueles poemas que parecem compostos às pressas. A bem da verdade, esses são os mais complicados. Afinal, não se pode subverter algo que não se conhece a fundo. Para brincar com a gramática de uma língua, é necessário apropriar-se de todas as suas nuances.  Não à toa o grande poeta Manoel de Barros diz, em um poema que faz parte, se não me falha a memória, do livro Ensaios fotográficos: “A única língua que estudei com força foi a portuguesa. Estudei-a com força para poder errá-la ao dente”. Logo ele, que não rima dois versos num poema.

De vez em quando, metida com minhas tentativas – muitas vezes frustradas – de escrever poemas, lembro dos meus primeiros sonetos e rimas. Não tenho ideia do fim que levaram e espero que não sejam descobertos. Sei, é um pouco triste pensar assim nos meus versos da adolescência. Talvez até fossem dignos, consideradas as circunstâncias. É quando penso nessas primeiras composições, julgadas trabalhosas, que me dou conta: eu era feliz e não sabia.


Publicado no Novo Jornal, edição do dia 12 de março de 2010

Um comentário:

  1. Adoro sua poesia. E sua prosa também me encanta boya! Cheiro. (acho que me lembro desse título).

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